Jornalismo Investigativo
- manualderedacaoufrj
- 16 de dez. de 2019
- 6 min de leitura
1. O que é jornalismo investigativo?
É a prática de reportagem especializada em temas que demandam uma investigação mais aprofundada, como corrupção e outros crimes.
2. De que forma é executado?
Original - É aquela que envolve os próprios repórteres na descoberta e documentação de atividades até então desconhecidas do público. No caso, os repórteres investigativos podem usar táticas similares ao trabalho investigativo policial, como consultar documentos públicos, usar informantes e, dependendo das circunstâncias, até fazer trabalho secreto.
Sobre investigação - Trata-se de um desdobramento recente do conceito. Esse tipo de reportagem origina-se do vazamento de informação de uma investigação oficial em andamento ou em processo de preparação por outras fontes, geralmente agências governamentais.
3. Estratégias para realizar o jornalismo investigativo.
Infiltração:
Durante a infiltração, o repórter omite sua identidade, e se insere no centro dos acontecimentos a fim de apurar os fatos de maneira direta. Uma variação desta técnica é converter em fonte de informação uma pessoa que tenha acesso a locais e documentos importantes para a investigação jornalística. Nessas situações, geralmente, o nome da fonte é preservado.
Exemplo: Tim Lopes no Rio de Janeiro e Nellie Bly em Nova York.
Reportagem assistida pelo computador:
Reportagem com o auxílio do computador é o termo comumente utilizado para descrever o uso de computador para reunir e analisar os dados necessários para escrever notícias. A disseminação dos computadores, os softwares e da Internet mudou a maneira como os repórteres realizam seu trabalho. Repórteres coletam informações rotineiramente em seus bancos de dados, analisam recursos públicos com planilhas e programas estatísticos, estudam mudanças políticas e demográficas com mapeamento de sistemas de informações geográficas.
4. Fontes de informação
É possível dividir as fontes de informação em pessoais, institucionais e documentais; e
as classificá-las da seguinte maneira:
oficiais: falam em nome do Estado, de instituições, de empresas, organizações, etc.; oficiosas: mantêm ligação com indivíduos ou instituições, mas que não estão habilitados a falar em nome deles;
independentes: sem relação de interesse ou de poder com organizações, empresas, Estado etc;
primárias: fornecem ao jornalista as principais informações de uma matéria (fatos, versões e números);
secundárias: fornecem informações adicionais utilizadas na composição de premissas e contextos;
testemunhos: vivenciou ou presenciou acontecimento de interesse jornalístico;
experts: concede versões, informações especializadas e interpretações de eventos
5. Fact Checking
A checagem de fatos (também referida pelo termo em inglês fact-checking) em jornalismo surge para checar o próprio jornalista, ou seja, confirmar se ele está falando a verdade. A mesma refere-se ao trabalho de confirmar e comprovar fatos e dados usados em discursos (sobretudo políticos) nos meios de comunicação e outras publicações. Seu propósito é detectar erros, imprecisões e mentiras.
Sites recomendáveis para Fact Checking
Boatos.org - Além de pesquisar a origem dos boatos, procura fazer uma análise sobre os pontos contraditórios contidos no que está sendo divulgado. Criado em junho de 2013, por Edgard Matsuki. §
Fato ou Fake - A seção Fato ou Fake foi lançada pelo G1, em julho de 2018, com o objetivo de alertar os brasileiros sobre conteúdos duvidosos disseminados na internet ou pelo celular, esclarecendo o que é notícia (fato) e o que é falso (fake). Participam da apuração equipes de G1, O Globo, Extra, Época, Valor, CBN, GloboNews e TV Globo.
Lupa - Primeira empresa especializada emchecagem de fatos do Brasil, e com redação no Rio de Janeiro, a Lupa acompanha o noticiário de política, economia, cidade, cultura, educação, saúde e relações internacionais, buscando corrigir informações imprecisas e divulgar dados corretos. Integra a International Fact-Checking Network (IFCN), rede mundial de checadores, e foi a primeira plataforma especializada em fact-checking a integrar o consórcio mundial The Trust Project. Fundada em novembro de 2015 por Cristina Tardáguila.
Estadão Verifica - É editado por Daniel Bramatti, e as checagens são feitas pelos repórteres. Integrante da International Fact-Checking Network (IFCN), rede organizada pelo Instituto Poynter que reúne os principais sites de fact-checking do mundo, em abril de 2019, o Estadão Verifica tornou-se parceiro do programa de checagem de fatos do Facebook no Brasil*
Truco - O projeto escolhe as frases para checagens a partir das declarações de figuras públicas candidatos e boatos que circulam sobre os temas eleitorais. Podem ser usadas frases ditas pelos candidatos em eventos públicos, em entrevistas, no horário eleitoral gratuito, em material de campanha ou em redes sociais. Integra a International Fact-Checking Network (IFCN), rede mundial de checadores.
6. Ética na investigação
O Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) fixa normas às quais os profissionais jornalistas devem se submeter. O direito à informação e o interesse público podem defender algumas técnicas usadas na profissão. Contudo, o artigo sexto do Código, que trata do dever do jornalista, no inciso oitavo orienta o respeito "ao direito à intimidade, à privacidade, à honra e à imagem do cidadão". Já o décimo primeiro artigo, no inciso terceiro, aponta "que o jornalista não pode divulgar informações obtidas de maneira inadequada, por exemplo, com o uso de identidades falsas, câmeras escondidas ou microfones ocultos, salvo em casos de incontestável interesse público e quando esgotadas todas as outras possibilidades de apuração“
7. Principais casos
Caso Watergate:
O caso Watergate foi o escândalo político ocorrido em 1974 nos Estados Unidos que, ao vir à tona, acabou por culminar com a renúncia do presidente Richard Nixon, do Partido Republicano. "Watergate", de certo modo, tornou-se um caso paradigmático de corrupção.
Em 18 de junho de 1972, o jornal Washington Post noticiava na primeira página o assalto do dia anterior à sede do Comitê Nacional Democrata, no Complexo Watergate, na capital dos Estados Unidos. Durante a campanha eleitoral, cinco pessoas foram detidas quando tentavam fotografar documentos e instalar aparelhos de escuta no escritório do Partido Democrata.
Bob Woodwarde Carl Bernstein, dois repórteres do Washington Post, começaram a investigar o então já chamado caso Watergate. Durante muitos meses, os dois repórteres estabeleceram as ligações entre a Casa Branca e o assalto ao edifício de Watergate. Eles foram informados por uma pessoa conhecida apenas por Garganta Profunda (Deep Throat) que revelou que o presidente sabia das operações ilegais.
Caso WikiLeaks
WikiLeaks é uma organização transnacional sem fins lucrativos, sediada na Suécia, que publica, em sua página, postagens de fontes anônimas, documentos, fotos e informações confidenciais, vazadas de governos ou empresas, sobre assuntos sensíveis.
A página, administrada por The Sunshine Press,foi lançada em dezembro de 2006 e, em meados de novembro de 2007, já continha 1,2 milhão de documentos. Seu principal editor e porta-voz é o australiano Julian Assange, jornalista e ciberativista
Ao longo de 2010, WikiLeaks publicou grandes quantidades de documentos confidenciais do governo dos Estados Unidos, com forte repercussão mundial. Em abril, divulgou um vídeo de 2007, que mostra o ataque de um helicóptero Apache estado-unidense, matando pelo menos 12 pessoas - dentre as quais dois jornalistas da agência de notícias Reuters - em Bagdá, no contexto da ocupação do Iraque. O vídeo do ataque aéreo em Bagdá (Collateral Murder) é uma das mais notáveis publicações da página.
Caso Tim Lopes
Na madrugada do dia 2 de junho de 2002, o jornalista Tim Lopes foi morto enquanto realizava uma reportagem sobre abuso sexual de menores e tráfico de drogas em um baile funk na favela da Vila Cruzeiro, no bairro da Penha, Rio de Janeiro. O repórter foi sequestrado, torturado e executado por traficantes liderados por Elias Pereira da Silva, o “Elias Maluco”. O crime chocou a população e foi encarado como um cerceamento à liberdade de imprensa. Tim Lopes decidiu fazer a reportagem depois de receber denúncias de moradores da região. Os pais diziam que as filhas eram obrigadas por traficantes a participar de bailes funks.
8. Dados da violência contra jornalistas:
Relatório anual desenvolvido pela FENAJ (Federação Nacional dos Jornalistas) divulgado no último dia 18 de janeiro aponta que, em 2017, 130 jornalistas sofreram violência em todo território nacional – 38,51% a menos comparado ao ano anterior, mas igualmente preocupante.
O Brasil é o sexto país mais perigoso para jornalistas, segundo a Unesco.
Em 2018, 80 jornalistas foram mortos, 348 estão atualmente detidos e 60 são reféns. Números crescentes que revelam uma violência sem precedentes contra jornalistas.
9. Agências especializadas
Amazônia Real - A agência de jornalismo independente e investigativo Amazônia Real é uma mídia digital criada por mulheres, sem fins lucrativos, sediada em Manaus, no Amazonas. Tem como objetivo fazer jornalismo ético e investigativo, pautado nas questões da Amazônia e de seu povo. A linha editorial é voltada à defesa da democratização da informação, da liberdade de expressão e dos direitos humanos.
Agência Pública - Fundada em 2011 por repórteres mulheres, a Pública é a primeira agência de jornalismo investigativo sem fins lucrativos do Brasil. Essa agência distingue-se por aliar preocupação social com jornalismo independente e de credibilidade. Sua missão é produzir jornalismo investigativo e fomentar o jornalismo independente na América Latina.
CENTER FOR PUBLIC INTEGRITY (Centro para Integridade Pública), INTERNATIONAL CONSORTIOUM OF INVESTIGATIVE JOURNALISTS (Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos)
Com sede em Washington DC, o grupo sem fins lucrativos especializado em "jornalismo de serviço público," Center for Public Integrity (CPI) trabalha com organizações jornalísticas mundialmente. Entre seus programas está o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos, uma rede de mais de 80 repórteres em 40 países; ICIJ oferece um prêmio anual de US$20.000.
10. ABRAJI
A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) foi criada por um grupo de jornalistas brasileiros interessados em trocar experiências, informações e dicas sobre reportagem, principalmente sobre reportagens investigativas.
Comments